Infelizmente, mentiras e traições fazem parte de nosso cotidiano. E não tem muito o que fazer em relação a isso: as pessoas mentem, omitem, enganam, ludibriam para benefício próprio e/ou para evitar supostos aborrecimentos. Porque, é como eu sempre digo, é muito mais fácil esconder a sujeira embaixo do tapete do que se dar ao trabalho de discutir algo que não está bom ou admitir que fez merda e pedir desculpas humildemente, se for o caso. Ninguém vai parar pra pensar que, enquanto se mente daqui, tem alguém ali sendo enganado e feito de idiota. O momento da mentira não permite essa consideração – porque o mentiroso é, também, um egoísta.
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E é sempre bom lembrar que existem os dois lados: eu já peguei muita mentira, mas também já contei várias. Felizmente, hoje, olho para trás e vejo que soube evoluir neste aspecto, evitando criar futuros aborrecimentos e tentando esclarecer tudo no presente. Mas não depende só de mim, principalmente, em se tratando de relacionamento a dois: ambas as partes precisam colaborar. Concordam?
Já li inúmeros textos que abordam esse assunto que hoje estou abordando aqui e, acabo por concluir, que grande parte do meu coração abriga um ceticismo no que diz respeito a “sinceridade” e “fidelidade” em um relacionamento. A vivência também ajuda, claro; o fato é que eu não acredito em um casal 100% sincero e fiel. Ao menos um dos lados vai mentir em algum momento, por mais que o outro faça tudo certo quanto possível.
Vamos pensar no começo de um relacionamento a dois: tudo parece maravilhoso enquanto um novo casal se conhece, cada um quer mostrar o melhor de si para impressionar o outro. Já começam, a partir daí, a mentir sobre algo que julgam desnecessário contar. Douram a pílula, aumentam histórias, para parecerem mais belas, ou diminuem mancadas antigas, para amenizar um suposto julgamento duro da outra parte. Tudo isso é real e compreensível – e não vem falar que não acontece, porque acontece sim. O problema é que estas mentiras de começo se tornam base para futuras omissões e ações semelhantes ou até mais graves.
É como gastar dinheiro comprando roupa: “já gastei nisso aqui, posso gastar mais um pouquinho ali, que não fará diferença”. A mentira segue a mesma linha de raciocínio: “já menti sobre aquilo, posso mentir mais um pouco sobre isso, que não vai influenciar em nada”. Acredite: vai. E quanto mais você mente, omite ou trai a confiança do outro, mais você se afunda na própria lama de erros e mais se perde quando olha para ela tentando descobrir o que vai fazer. E quanto mais a lama cresce, mais você corre o risco de que ela exale o cheiro ou apareça. E uma hora aparece.
Pode até ser que você dê sorte de ser perdoado, que o outro descubra sua lama podre de coisas escondidas e resolva relevar e tocar adiante, como, pode ser que o outro pegue toda essa merda acumulada e jogue para cima de você. É um risco que você corre e algo que você mesmo procurou, certo? O relacionamento está aí para ser encarado da forma mais correta e sincera possível, mas, a maioria das pessoas simplesmente acha mais cômodo fazer da pior maneira, com a ilusão de que não terão suas mentiras/omissões descobertas. A velha metáfora “merda bóia” nunca foi tão verdadeira, se a aplicarmos neste contexto.
E se a outra metade surtar por ter sido feita de idiota, não a culpe, você nem tem esse direito. Nossa cabeça é complexa demais para que exijamos dela equilíbrio o tempo todo; a vida já é muito dura e difícil nos menores detalhes. Se você colaborou para tornar sua vida a dois ainda pior, não reclame das consequências. Você acumulou seu monte de lama, agora encare-o. O mínimo que se pode ter, diante de uma pisada na bola, é humildade. O problema é que a coisa sempre pode piorar…
Sempre tem aquele ou aquela cara de pau maldita que ainda vai se achar no direito de ser arrogante, mesmo estando errado(a). E aí quanto a esses, sinto dizer, não há o que fazer a não ser lamentar por tê-los conhecido. Uma pessoa que mente, trai, engana e não tem nem a humildade de reconhecer o erro e pedir perdão, não merece nem um diálogo como prêmio de consolação. E, respondendo à pergunta do título desta matéria: SIM, é extremamente difícil conviver após uma mentira ou uma traição, para ambos os lados.
Explico: para quem descobriu a mentira, está óbvio, a pessoa simplesmente não carrega mais consigo a mesma confiança de antes no outro. Não sejamos hipócritas; o perdão existe, mas a memória jamais esquece – a menos que sofra de amnésia. Então, por mais que o indivíduo resolva tocar a relação após o incidente, qualquer problema fará com que se lembre do ocorrido. E vai machucar, por um bom tempo. Já pelo outro lado, do mentiroso, o resultado de sua ‘cachorrada’ vai, na maioria das vezes, fazer com que ele mesmo sofra de desconfiança “espelhada”; ou seja, por ele não ter agido da maneira correta, vai pensar que seu parceiro está fazendo o mesmo. A velha história do “tira os outros por ele”, sabe?
O resumo da ópera é que mentir, trair, omitir e sinônimos distróem a convivência a dois e levam ambos a sofrer. E é claro que toda essa reflexão serve só para aqueles que são munidos de bom senso; não vou citar os desprovidos de cérebro e de qualquer humanidade, que fazem as coisas por puro instinto e são incapazes de falar com sua própria consciência medindo as consequências de seus atos, porque estes nem merecem conviver com alguém.
Então, minta, omita ou traia, mas tenha plena consciência das consequências e encare-as como se deve, sem se acovardar. Tenha a dignidade de reconhecer que errou, pedir perdão e seguir em frente, seja da forma que for, sem refletir no outro a sua personalidade. Apesar de se tratar de ser humano, pode ser que seu companheiro não tome atitudes iguais às suas; pode ser que ele seja uma pessoa melhor. Admita essa possibilidade. No mais, apesar de revoltada com situações como estas, ainda mantenho minha opinião de que devemos fazer a nossa parte. É horrível se sentir feita de otária, constatar que deu credibilidade para alguém que não merecia, mas, no final das contas, você vai poder se olhar no espelho e dizer a si própria que fez sua parte e que está em paz com sua consciência. Na minha concepção, ao menos, é bem melhor do que se olhar e se sentir um(a) cretino(a).
Imagens: reprodução.
+Qual o melhor caminho para perdoar com sucesso?
por Marcéli Paulino
Me chamo Marcéli Paulino, nascida em 16 de Julho de 1988, e sou bacharel em Tradução e Interpretação, curso que iniciei com 17 anos! Um pouco antes de me formar, já me interessava muito por moda e sabia que queria estudar e atuar na área. Então, assim que peguei meu diploma, foi o que fiz: procurei formações na área, que era meu sonho…