Explico-me: tudo nessa vida é uma questão de mão dupla – o que vai volta, o que sobe desce e vice-versa. Acontece que nem sempre o que volta é bom e o que desce traz um resultado satisfatório. Tanto na amizade, quanto no amor, valorizar-se é imprenscindível. Mas o que é exatamente se valorizar? Só agora eu entendi o sentido completo desta palavra, nestas situações.
Estes dias, lendo a Elle de dezembro, vi uma frase perfeita sobre amizade, citada por Giorgio Armani, a qual até postei no meu Instagram. Dizia assim: "Amizade é o sentimento mais forte e também o mais seletivo. Não dou facilmente minha amizade e exijo muito dos meus amigos. Mas sei ser um amigo para sempre". Ao mesmo tempo em que me identifiquei, parei para pensar o quanto exijo das pessoas que amo, de uma forma geral: amigos, familiares, etc.
Cheguei a me criticar, pensando que sou uma chata e que não olho meu próprio umbigo quando me torno assim, exigente e tão crítica, a ponto de cortar várias relações que não me fazem bem. Até que, raciocinando mais um pouco, concluí que eu posso sim exigir dos outros aquilo que dou de sobra e que julgo ser tão caro. Caro no sentido de ser valioso, no sentido de ser raro e extremamente importante pra mim. Quer exemplos? Honestidade, fidelidade, companheirismo, sinceridade, compaixão e consideração.
Palavras tão "clichês" mas que aposto que metade das pessoas que as ouvem não conhecem o significado na prática. Giorgio está certíssimo quando diz que não dá sua amizade fácil – justamente porque ele acredita que o que ele tem a oferecer é caro demais para sair distribuindo a qualquer pessoa. Sempre que nos esquecemos que o que temos a oferecer é muito, acabamos oferencendo às pessoas erradas e recebendo coisas baratas em troca – como mentiras, como falsidades, como traições…
Então eu passei a selecionar meus relacionamentos em vários níveis: existem, para mim, os sociáveis, que são aquelas pessoas que acabei de conhecer mas que ainda estão em fase de análise (e que vou tratar com educação, mas sem empolgação); os toleráveis, que são aqueles que já conheci e de quem não gostei, mas que por algum motivo (trabalho, círculo social) sou obrigada a dar um oi e um tchau ou trocar umas palavras com educação; tem os amigáveis, com quem lido com certo nível de amizade, mas a quem não confio para contar coisas pessoais e só conto o necessário que todos podem saber, caso a notícia venha a vazar, por exemplo; e, finalmente, os amáveis – esses sim, têm minha amizade e meu amor por completo. Podem contar comigo para tudo, podem se abrir comigo, assim como me abro com eles, e falarem todos os seus segredos, que estarão guardados. Podem pedir o que quiserem de mim que terão. E claro que também têm os insuportáveis, que, como o próprio nome sugere, eu não suporto. São aqueles que já me fizeram muita coisa ruim ou uma coisa muito grave e que decidi ejetar da minha vida por completo, sem previsão de retorno.
Para alcançar o nível "amável", são necessários meses, talvez anos de convivência e de boas atitudes que me mostrem que a pessoa realmente merece minha amizade [ou meu amor] por completo. Pra vocês terem uma ideia, nestes meus anos de vida, os amáveis que tenho (fora família) podem ser contados nos dedos de uma mão – e ainda sobra. E quem é que precisa de quantidade quando se tem qualidade, não é? Quando me dei conta do quão são poucos os amáveis na minha equação, confesso que fiquei incomodada em um primeiro momento. "Que pessoa mala devo ser", pensei. Mas, logo depois, concluí o seguinte: não sou mala, só não sou iludida. O mundo é lindo e cor-de-rosa para os portatores da ignorância, mas uma hora a realidade vem à tona e você a enxerga como ela é. Quanto mais longamente você cultivar a ilusão, mais difícil será aceitar o fato de que ela se foi.
Imagens: Witties Quotes e Tumblr [Popular Photography] – reprodução.
Eu apenas aceitei o fato de que os que valem a pena são poucos e raros para todos – e até fiquei feliz em saber que tenho alguns desses raros. Devem existir outras pessoas valiosas espalhadas pelo mundo, que não conheci, mas que talvez eu venha a conhecer. Se não acontecer, tudo bem, eu sorrio e fico feliz com o que tenho. Fico muito feliz em saber que ao menos tenho amáveis. Tem gente que nem isso tem e vive de ilusão.
Beijos e uma excelente semana,
Marcéli Paulino.
Me chamo Marcéli Paulino, nascida em 16 de Julho de 1988, e sou bacharel em Tradução e Interpretação, curso que iniciei com 17 anos! Um pouco antes de me formar, já me interessava muito por moda e sabia que queria estudar e atuar na área. Então, assim que peguei meu diploma, foi o que fiz: procurei formações na área, que era meu sonho…