Gosto de começar boa parte das minhas reflexões com a denotação de um conceito, porque, normalmente, ela introduz com ótimo embasamento minha teoria. Quem tem uma visão de mundo parecida com a minha já entende, por este significado aí em cima, que a vaidade em si é um dos grandes problemas do mundo atual, presente na maioria dos relacionamentos.
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Eu, particularmente, não gosto quando alguém fala que sou uma pessoa vaidosa [ainda bem que é raro isso acontecer!]. Parece contraditório, levando em conta que o mercado em que trabalho praticamente usa a vaidade como "moeda de troca". Mas eu acredito que existem jeitos e jeitos de conduzir nossa profissão – para quem trabalha com moda, de forma geral. Porque, no mundo atual de consumo desenfreado, boa parte das pessoas leva em conta a imagem que está passando ao comprar alguma coisa, por exemplo, no lugar de priorizar se aquilo realmente irá lhe servir. Fala a verdade: você morre de vontade de trocar seu iPhone 4S por um 6 só porque seu amigo ou amiga já tem um – e não porque você realmente precisa, porque, afinal, seu celular atual está em bom estado.
Aonde eu quero chegar com isso: não acho que para trabalhar com moda – ou com qualquer outra profissão que esteja diretamente ligada ao consumo – seja necessário usar a vaidade como um exercício diário. Sim, ela nos influi a querer consumir mais, mas nada é completamente incontrolável a ponto de se tornar irracional. E mais: você não TEM que consumir pensando no que isso significará para os outros e, sim, para você mesma[o].
O que mais tem por aí são blogueiras, que se tornam figuras públicas, com vontade de ostentar cada vez mais produtos da marca X, Y ou Z, visando serem, automaticamente, enxergadas com alguma distinção social que julgam ser positiva. Isso tem muito a ver com um post que fiz, há muito tempo, sobre consumo desenfreado e os males que ele causa.
Ou seja: você é porque você tem? Seu poder aquisitivo é que dita sua personalidade e diz se você é digna[o] de admiração?? Infelizmente, para nossa atual sociedade, sim. Isso sempre me incomodou, mas com o passar do tempo tem me incomodado mais. Eu vejo que uma foto de alguém com uma bolsa da Chanel, no Instagram, ganha pelo menos 100 curtidas a mais que uma imagem de uma paisagem. E esse é um exemplo bem banal, porque a coisa vai muito além disso.
Outro exemplo: uma pessoa que apareceu no programa de TV "x" e resolve fazer um blog tem muitos milhões de curtidores/seguidores só porque ficou nacionalmente conhecida e não, necessariamente, pelo conteúdo que ela passa – ao passo que outra, que nunca apareceu em um veículo de longo alcance, mas tem um conteúdo melhor, não tem nem 1/3 destes seguidores. As pessoas não parecem preocupadas com conteúdo e fundamento e, sim, com aparências.
Fazem questão de tirar foto ao lado do artista Y porque ele é "famosíssimo" e "tem 500k de seguidores no Instagram"; nem sabem quem é o cara ou até mesmo se outro dia ele deu alguma declaração que vai completamente em caminho oposto aos seus princípios. "O que importa é que ele é famoso e eu vou ganhar uns likes e uns seguidores por tabela". VAIDADE pura.
Imagens: Tumblr [reprodução].
É com essa mesma mentalidade que os caras esbanjam centenas de reais nas baladas, comprando bebida cara, por exemplo, e é com essa mentalidade que as garotas invejam umas às outras. Os caras acham que vão ter mais admiração de seus "alvos" pelo dinheiro que ostentam e as mulheres se sentem mais admiradas/invejadas porque julgam se vestirem melhor ou com melhor qualidade que outras. E assim por diante. Ou seja: nem eles estão preocupados se estão sendo disputados por puro interesse financeiro, nem elas ligam se tudo o que as resume é uma roupa cara/bonita. "Falta conteúdo, mas e daí? O importante é que estou sendo vista[o]".
Estou cansada de ler textos de blogs bem conhecidos por aí que me envergonham, gramaticalmente falando. A pessoa mal aplica a regência verbal direito e, mesmo assim, o texto dela ganha 650 mil curtidas e não sei quantos compartilhamentos. Não posso negar que fico revoltada. E isso tudo só prova que aqueles que aparecem mais, que ganham mais visibilidade, seja por qual motivo for, é que serão mais exaltados. Não é o ser em si ou o conteúdo – ou até mesmo a afinidade em expôr esse conteúdo – que dita se essa pessoa terá reconhecimento, mas o que ela mostra, como ela se exibe e o QUANTO ela se exibe. E aí vira aquela fila de dominó, onde o grupo de convencidos/desprovidos de vontade de mudar, se acomodam ainda mais, pensando: "pra quê conteúdo, se posso impressionar apenas com a minha aparência?".
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Para refletir – e mudar, se possível!
por Marcéli Paulino
Me chamo Marcéli Paulino, nascida em 16 de Julho de 1988, e sou bacharel em Tradução e Interpretação, curso que iniciei com 17 anos! Um pouco antes de me formar, já me interessava muito por moda e sabia que queria estudar e atuar na área. Então, assim que peguei meu diploma, foi o que fiz: procurei formações na área, que era meu sonho…