Chegou a hora de falar sobre esse acontecimento traumático, primeiro, porque gosto de deixar registrado, de certa forma, as etapas da minha vida (afinal esse blog também não deixa de ser um diário); em segundo lugar, porque muita gente tem curiosidade de saber como e por que me tornei vegetariana – e pra evitar boatos e histórias mal contadas, aqui você vai encontrar a verdade sobre essa informação.
Quem me conhece há mais tempo sabe o quanto eu amava uma comida japa. Não podia ficar 1 semana sem um peixe cru, se visse anúncio de restaurante japonês – rodízio, então!? vixe! – salivava.
Eu sempre tive a ideia de me tornar vegetariana por princípios espirituais/políticos/alimentícios em geral, mas, a paixão por um peixinho realmente me impedia.
Eis que em outubro de 2019 viajei para Cancún com meu noivo, meu primo e uma grande amiga, e fomos para um hotel all inclusive – o Riu Cancún (é propaganda sim, só que negativa. Mais pra frente vocês vão entender). Sou uma pessoa que não curte praia, nem é fã de verão, mas, poxa vida, era Cancún, né? A expectativa de fazer minha primeira viagem ao México, com pessoas que amo, era enorme… o que poderia dar errado? Bom, na penúltima noite, tudo.
A NOITE FATÍDICA
Hotel “all inclusive” significa que as comidas e as bebidas consumidas ao longo de sua hospedagem, dentro do hotel, estão inclusas no pacote. Isso incluía, adivinhem, um buffet maravilhoso de peixe cru que tinha num dos restaurantes principais. Claro que me acabei de comer, principalmente, no penúltimo dia, de despedida. Eis que nesse dia, de véspera de nosso retorno ao Brasil, comecei a me sentir meio enjoada por volta das 20hs. Estávamos nos arrumando pra descer para o jantar, e meu estômago começou a não ficar muito legal. Tive dores e náuseas. Pedi um remédio de estômago para minha amiga e tomei, aguardando melhorar.
Descemos para o jantar e eu mal consegui comer. O buffet me embrulhava. Precisei me retirar umas 3 vezes do restaurante para ir ao banheiro, comecei a ter diarréia. Uma, duas vezes… ok. Mas na terceira, comecei a me preocupar, principalmente, porque ela veio acompanhada de mais enjôo e de mais dor no estômago. Disse ao meu noivo que não passava bem. Aguardei, com muito custo, todos acabarem de jantar no restaurante, e subi para o quarto com ele. Me deitei. Bebi água, procurei repousar. Passada nem meia hora depois disso, voltei a ter diarréia, uma atrás da outra, seguidas, agora, de vômito. Eu realmente perdi a conta de quantas vezes fui ao banheiro para evacuar e vomitar – foram, pelo menos, umas 10 vezes.
O que fazer num país que não é o seu, em um hotel CARÍSSIMO, all inclusive, onde supostamente, espera-se ao menos ter uma enfermaria? Ligar na recepção e solicitar um médico, no mínimo. Foi o que fizemos. Bom, meu noivo fez, porque a essa altura eu já estava sem condições de falar no telefone. A recepção avisou que o atendimento médico seria feito no quarto e que custaria USD250,00. Lição número 1 aprendida e que repasso a vocês: NUNCA, jamais, em tempo algum, pisem fora do país de vocês sem seguro viagem. A gente nunca acha que vai acontecer nada que necessite dele, mas, olha aí o meu exemplo. Necessitamos. E mediante a situação em que me encontrava, não tivemos outra escolha a não ser aceitar esse preço abusivo dessa merda de hotel, que além de caríssimo, ofereceu um atendimento tosco. Sem contar que as enfermeiras chegaram tranquilamente ao meu quarto pra me atender uma meia hora depois da ligação. Se fosse caso de vida ou morte naquele minuto, já era, né, pela calma delas.
Chegaram ao meu quarto, então, as duas enfermeiras, que mediram minha pressão e temperatura, e me deram 2 injeções: uma pra enjôo e outra pra diarréia, além de uma bebida horrível que dizia conter os eletrólitos que eu precisava repôr, porque havia perdido muitos nutrientes já (ah vá?). Nos asseguraram de que em meia hora eu ia melhorar do enjôo e da diarréia – detalhe: pagamos à parte os remédios e a bebida, porque os 250 dólares custava SOMENTE o atendimento, tá? Então põe uns 400 dólares aí na conta. Eis que, uns 15 minutos depois que as duas lindas saíram do quarto, eu comecei a vomitar e a evacuar de novo. Mas uma cacetada de vezes. Esperamos em torno de 1 hora, na esperança dos tais medicamentos fazerem efeito, e nada. Meu noivo tornou a ligar na recepção, depois disso, dizendo que o medicamento não surtia efeito, pedindo para que as enfermeiras retornassem ao quarto, e adivinhem: a recepção, bem friamente, disse que se quiséssemos novo atendimento, teríamos que pagar mais USD250. E eu ali, me esvaindo tudo que podia. Ja não tínhamos como pagar pelos 250 dólares no primeiro atendimento, que dirá no segundo. Sem chance. Eles também não tinham ambulância e se recusaram a oferecer um táxi do hotel que pudesse me levar a um hospital mais próximo – inclusive, NEM SE DIGNARAM A INDICAR um hospital próximo dali.
ALERTA GATILHO: NÃO PROSSIGA NA LEITURA SE NÃO ESTIVER BEM EMOCIONALMENTE, POIS CONTÉM RELATOS FORTES
Resultado: durante mais 6 horas, dali até de manhã cedinho, eu segui passando mal. Chegou um momento em que desmaiei no banheiro e, a partir daí, fui carregada de volta para a cama sem poder me mexer. Era tanta dor e tanta fraqueza juntas, que eu não conseguia mais me levantar para ir até o banheiro. Eu vomitava virando na cama mesmo, em direção ao chão, e já evacuava água, deitada na cama também. Tipo zero dignidade, mesmo. Meu noivo colocava toalhas embaixo de mim, pra tentar conter o que saía de mim. Um detalhe aqui: quando ele ligou na recepção solicitando mais toalhas, pra tentar LIMPAR o quarto, o recepcionista perguntou se eu estava sujando a roupa de cama e alertou que cobraria por isso – pela roupa de cama e pelas toalhas. Se a situação não fosse tão trágica, daria para rir, né? Depois de algumas ameaças feitas pelo meu noivo, para o tal recepcionista, eles desistiram das cobranças extras.
Já se aproximava das 6 da manhã (tudo começou por volta das 20hs, lembrando. Foram quase 12 horas passando mal) e nós todos (eu, quase inconsciente) com medo de não conseguir voltar para o Brasil, porque, obviamente, como embarcar naquele estado? Nosso check in era às 11h no aeroporto e eu simplesmente não teria condições nem de levantar da cama, quanto mais de fazer check in. O hotel já havia se recusado a dar qualquer ajuda sem pagamentos extras – aliás, que “grande” ajuda foi dada pelas enfermeiras, né -, então, meu noivo e meu primo saíram, pelos arredores do hotel, à procura de um táxi que aceitasse pagamento em cartão de débito e que pudesse nos levar até um hospital que me atendesse decentemente.
Felizmente, acabamos por encontrar o que eu acho que foi um anjo, enviado por Deus, pra nos ajudar na hora certa – porque seria tudo ou nada naquele momento. O motorista, vendo meu estado, sendo carregada, falou para o Lucas (vulgo meu noivo) que sua esposa trabalhava em um hospital ali perto, como enfermeira, e gentilmente fez uma ligação informando que seus passageiros tinham vôo de volta para o Brasil e que a passageira estava moribunda necessitando de socorro imediato, solicitando pronto atendimento pra mim. Passou nossos documentos para a recepção do hospital, tudo por telefone. Quando chegamos lá, fui carregada direto para a maca e fui atendida pelo médico, que já conhecia o motorista que chegou conosco. O médico me examinou, olhou o receituário das enfermeiras do hotel e deu risada dos medicamentos que elas haviam me prescrito; perguntou pro Lucas se havíamos pago “250 dólares por isso?”; em seguida, já me colocou no soro, dizendo que o que eu estava tendo era uma intoxicação alimentar muito séria e que eu devia ter ido para o soro nas primeiras 3 horas de vômito e diarréia. Olha só, né, que enfermeiras super competentes.
A agulha do soro foi a mais grossa que já vi em toda minha vida, mas, quem à beira da morte vai ligar para uma agulha mais grossa que meu bom dia na TPM, não é? Mesmo tendo pânico de agulhas, vale ressaltar. Fiquei por 2h30min no soro, com os medicamentos necessários e, aos poucos, conseguia recobrar minha visão, que já era turva, e as dores começaram a cessar. Ainda me sentia muito fraca, muito indisposta, mas, tive que, depois de liberada do hospital, ficar em pé e encarar uma viagem de quase 15 horas de volta pra casa. Fácil não foi, acho que isso está bem claro…
O QUE CAUSOU A INTOXICAÇÃO?
Tudo indica que o que causou a intoxicação alimentar que tive foi o peixe cru que almoçamos na véspera da volta. Por que? Primeiro, por suposições válidas do médico do hospital que me atendeu, o Dr. Dorado (por sinal, outro anjo que me salvou, além do motorista). Ele disse que esse tipo de bactéria que causa dores, vômito e diarréias são oriundas, geralmente, de alimentos crus que não foram corretamente manipulados/higienizados (o único alimento cru que havia ingerido naquele dia havia sido o atum). Em segundo lugar, porque estávamos em 4 pessoas e uma delas foi a única a não comer o tal peixe cru e, também, a única a não passar mal depois desse ocorrido. As outras três pessoas que ingeriram o tal peixe, incluindo eu mesma, tiveram reações de intoxicação – as outras duas pessoas tiveram reações mais leves que a minha, mas, tiveram os mesmos sintomas de náuses, vômito e diarréia.
E, ENTÃO, NASCE MAIS UMA VEGETARIANA NO MUNDO…
Eu só sei que, sendo ou não o atum, eu não consigo mais olhar pra peixe, frutos do mar ou qualquer animal marinho que seja. Me dá embrulho só de pensar na carne crua de qualquer peixe. Não me apetece nem um pouco olhar pra qualquer anúncio de comida japonesa. A única comida japonesa que eu consumo é a vegana – que, por sinal, é deliciosa. Considerando que peixe e frutos do mar eram os únicos empecilhos para que eu me tornasse vegetariana, depois desse ocorrido, eu finalmente me tornei. Ainda consumo laticínios e ovos, sim, mas, moderadamente. Atualmente, quem orienta meu cardápio vegetariano é a nutricionista Virginia Nereyda. Ela, por sinal, me ensinou MUITO sobre quantidade de vitaminas/minerais que preciso ingerir e as propriedades dos alimentos que combinam e que não combinam entre si nas refeições. Gosto do fato de que ela não olha com preconceito para o estilo de vida que adotei, como muito profissional faz (em que a primeira atitude é falar “não come carne, não vai ter músculo”, entre outras coisas).
MORAL DA HISTÓRIA
Pra quem me pergunta se odiei Cancún e se deixo de recomendar viagem para o México, eis minha resposta: claro que não. O país e a cidade não têm culpa do que eu passei, até porque, eu poderia passar por isso em qualquer lugar do mundo, inclusive, no meu próprio país, talvez até na minha cidade. É um lugar lindo, vale sim a visita, se você tiver vontade de conhecer. Apesar de tudo que passei nas últimas horas antes de voltar pra casa, a viagem teve seus encantos e eu vivi momentos muito bons com pessoas importantes para mim. Na época em que passei por isso, confesso, me deixei levar pela raiva e postei Stories desabafando, meio que injustamente, a respeito do país e da cidade e cheguei, sim, a pensar que nunca mais pisaria lá. Não digo que será o primeiro país que voltarei a visitar, porque estaria mentindo, mas, aquela raiva generalizada e impensada passou.
O que eu não recomendo de forma alguma é o hotel em que me hospedei, por razões óbvias. Muito bons em oferecer pacotes atrativos, mas, péssimos em oferecer respaldo para o cliente quando o assunto é saúde. Sem falar que a estrutura do hotel deixou a desejar em muitos níveis. Esperava muito mais do conforto dos quartos, da segurança (tivemos um par de chinelos roubado na piscina) e da qualidade das travas das portas dos quartos (isso é história para um outro post); da qualidade das bebidas (horrorosas; cerveja quente, o pior champanhe que já tomei na vida, drinks horríveis). Além de cobrarem tudo em dólar – qualquer coisa que você consuma além do que está incluso nos pacotes. E não é barato, não. É uma facada no olho. Um pequeno consolo por ter sido “vítima hóspede” desse lugar foi que percebi, no instagram desse hotel, que outros hóspedes tinham grandes reclamações a respeito de lá, ou seja, o “privilégio” do atendimento negligente não foi só meu. Lição número 2 que aqui compartilho: PESQUISEM avidamente as opções de hospedagem antes de aceitar a primeira proposta ‘maravilhosa’ que surgir. Às vezes, vale mais a pena ficar em um hotel mais modesto, mais em conta, que não seja all inclusive, e gastar o que gastaria com uma hospedagem absurda conhecendo restaurantes e outros lugares legais nos arredores.
Espero que possa ter ensinado algo com esse meu post e com minha história e espero, de verdade, que você nunca passe pelo que eu passei pra descobrir o perigo que há em consumir um alimento cru em qualquer lugar de higiene duvidosa.
MAIS: A pressão do padrão estético para TODAS as mulheres
Beijos saudáveis e até o próximo post!
Marcéli
Me chamo Marcéli Paulino, nascida em 16 de Julho de 1988, e sou bacharel em Tradução e Interpretação, curso que iniciei com 17 anos! Um pouco antes de me formar, já me interessava muito por moda e sabia que queria estudar e atuar na área. Então, assim que peguei meu diploma, foi o que fiz: procurei formações na área, que era meu sonho…