Razão x emoção: antes de sermos homem e mulher, somos todos seres humanos

Vivo um eterno paradoxo entre demonstrar meus sentimentos e, ao mesmo tempo, escondê-los, porque julgo que se "abrir" demais é desvantajoso, seja no amor, seja nas amizades. Pior que isso: vejo que muitas pessoas também agem como eu. E, até o presente momento, me pergunto se essa atitude é realmente boa e até que ponto é [em caso afirmativo].

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Estou lendo um livro que aborda um tema muito comum dentro do mundo dos relacionamentos e, em meio à reflexão do autor, surgiu a questão de "razão versus emoção". Ele embasa sua teoria numa transição que a sociedade sofreu, ao longo dos anos, explicando que, talvez, essa guerra entre sentimento e raciocínio seja fruto de uma competitividade que vivemos no mundo de hoje. Pra mim, isso tem muito fundamento – e ao mesmo tempo que me esclarece muita coisa, me atormenta por outro lado.

Pense pelas menores questões: fica difícil viver hoje sem competir. As pessoas competem dentro da sala de aula, por uma colocação de trabalho, competem por terem mais ou menos amigos, por popularidade, por reconhecimento, por aquisições [alô, mundo da moda consumista]… E essa atmosfera de competição também atinge os relacionamentos, sem que a gente se dê conta! 

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Aí, eu me pergunto: se somos todos seres humanos, não seria mais natural que raciocínio e sentimento se complementassem, ao invés de trabalharem um contra o outro? Não seria melhor se colaborássemos com as pessoas, ao invés de praticar o egoísmo e a individualidade a todo momento, pelas mínimas coisas?? Um egoísta em um círculo de amizades, por exemplo, leva o restante do grupo a ser egoísta também. Podem reparar.

Este efeito dominó se dá, justamente, pelas atitudes individualistas, em qualquer área do relacionamento: "ele não está nem aí, por que eu estarei?" ou "ele não ligou, também não vou ligar". "Eu disse que gosto dele, mas ele não retribuiu, vou aparecer com outro na frente dele". Com certeza todo mundo já teve essa linha de pensamento ao menos uma vez na vida, o que mostra que ninguém quer se sentir "por baixo" ou em "desvantagem" em relação a uma outra pessoa.

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Mas o que seria exatamente desvantagem? As escolhas de alguém não necessariamente precisam nos humilhar. Acredito que a forma como encaramos a situação é que dá o poder a ela, de fato. Como aquela frase "as pessoas só fazem conosco o que deixamos que elas façam". Você não precisa deixar de ligar, se não te ligou, nem deixar de se importar porque o outro não se importou. Claro, ninguém quer viver dando murro em ponta de faca, mas uma vez que nada foi tentado antes, por que não tentar? E se for pra deixar ir, deixe sem ressentimentos [não é fácil, mas não custa treinar].

Se não deu certo, se sua expectativa não foi correspondida, tudo bem. O importante é que você tenha em mente a sensação plena de "missão cumprida". Que você não se force a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa pensando na imagem perante os outros, mas perante si próprio. Acho que essa é uma das questões principais: as pessoas estão tão preocupadas em construir uma imagem pública, que se esquecem do seu 'eu' privado. E aí rola uma crise de identidade, quando olhamos no espelho e pensamos: 'mas eu não quero ser assim, por que estou agindo assim'?

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Imagens: Tumblr [reprodução].

A competitividade que nos faz sempre querer "estar por cima" nos leva, muitas vezes, a sermos pessoas diferentes do que somos. Até chego a pensar, por vezes, que somos muito mais primitivos em questão de sentimentos que nossos próprios ancestrais, que viviam na Era das Cavernas. O que leva uma pessoa a impedir o sucesso da outra? Inveja e competição. O que leva, muitas vezes, uma pessoa a trair a outra dentro de um relacionamento? Ego, competição de vaidades. O que leva um grupo de mulheres rejeitar uma nova integrante? Inveja, ego, vaidade, competição por atenção/medo da perda de atenção. 

E estes são só alguns poucos e soltos exemplos, que não definem, nem de longe, o grau dos problemas de convívio atual. Infelizmente, tudo gira em torno de competição: "eu não posso sair mais magoado[a] do relacionamento que ela[e], eu tenho que ter mais admiradores[as], eu tenho que pegar mais mulheres", entre tantos outros pensamentos que conhecemos. Fruto, sim, de uma mentalidade machista também – mas, principalmente, de um mundo que zela por aparências e por estar sempre em vantagem. Se é fácil abdicar desta competitivdade entranhada em nossas atitudes? Nem um pouco. Mas acredito que tentar seja o primeiro passo, para ao menos sair do lugar.

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por Marcéli Paulino

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