Amizade colorida é sempre o destino final ou dá para conviver apenas amigavelmente?

Falácias do mundo à parte, as pessoas são estranhas. Eu nem vou começar criticando os outros e, hoje, farei diferente: vou criticar a mim mesma. Estes dias, fazendo uma auto-análise, reparei o quanto, às vezes, sou igrata com aqueles que fazem de tudo por mim.

A começar pela minha mãe. Claro, ela tem alguns ideais formados pelo tempo em que ela cresceu, que a fazem ter o pensamento um pouco dferente do meu, em relação ao mundo. O que não significa que ela não queira meu bem. À maneira dela, mas quer. E ela é minha mãe, mas acima de tudo, graças a Deus, tenho em minha mãe uma amiga. E assim como é com ela, com outras amizades é a mesma coisa em relação a atitudes (e falo aqui, de amizades verdadeiras).

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Quantos amigos ou amigas você deixou de lado por causa de seus próprios interesses, sejam eles justificáveis ou não? Quantas vezes você correu atrás de alguém e se sentiu deixado de lado, pensando que também já fez isso com outras pessoas?

E em se tratando de amizade colorida, será que esse comportamento muda para "pior"? Na maioria dos casos, a meu ver, sim. Primeiro, porque o ser humano não é um robô pra viver em função apenas do raciocínio – e nem deve – o que leva a, fatalmente, confundir as coisas e a se envolver sentimentalmente (esta possibilidade dobra quando ambos os amigos se julgam atraentes). E, em segundo lugar, o que é um problema gerado através do primeiro, as pessoas morrem de medo de envolvimento, ou seja, uma possibilidade de envolvimento sentimental as afastam.

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Eu vejo isso como algo muito louco: uma coisa que deveria aproximar as pessoas é o ponto de partida para afastá-las. Que fobia é essa de relacionamento que a gente cria na nossa cabeça, né? Por que será que esse assunto vem sido considerado, cada vez mais, um tabu? Parece que namoro virou um monstro daqueles filmes de terror 'Blockbusters' do qual ninguém consegue ouvir falar sem se borrar nas calças.

E eu digo isso por mim mesma, também, não só pelas outras pessoas. Eu, que sou uma garota heterossexual, por exemplo, começo a me incomodar se algum cara desconhecido tenta criar certa proximidade comigo. A primeira coisa em que eu penso é que ele está com segundas intenções, e não que ele quer apenas me conhecer, quem sabe, só para ficar na amizade. Às vezes, o contrário também acontece: eu me aproximo de um cara que acho interessante com segundas intenções, mas primeiro, com o intuito de criar uma amizade. E aí, se ele percebe isso, arruma uma maneira de pular fora – afinal, não existe amizade colorida sem envolvimento sentimental: proximidade significa emoção – e emoção não pode ter, né? É "proibido".

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Ou seja: o efeito dominó doentio que esse medo causa está acabando com o relacionamento entre as pessoas. E é muito triste constatar isso. Eu tenho medo que alguém se aproxime, mas quando tento me aproximar de alguém e esta outra pessoa tem medo também, eu não entendo. Disto, eu concluo que, se estamos incomodados com o que vemos aí fora, devemos olhar para dentro primeiro, porque é bem possível que essa atitude externa que tanto nos incomoda seja tomada por nós mesmos, também, sem nos darmos conta.

Eu vejo umas pessoas postando, como que na brincadeira, que "agora que o Carnaval passou, está na hora de encontrar o amor da minha vida" e eu nunca vi declaração mais ridícula, por mais que seja brincadeira. Quer dizer que existem épocas certas para encontrar um amor? E quem namora no Carnaval é babaca?? Ou seja, você nunca foi uma pessoa séria, mas agora que sua época de piranhar passou, você julga que as pessoas precisam se disponibilizar para você? E se agora elas não quiserem??

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Imagens: Pinterest e Tumblr [reprodução].

E mais: será mesmo que você quer encontrar o amor ou você só quer estabelecer um relacionamento com alguém, por um tempo, para poder provar para si mesmo[a] e para os outros que pode fazer isso? Sinceramente, ao mesmo tempo que algo dentro de mim me pede para não perder a fé na humanidade, eu não sei se essa luta interna e eterna entre ego X sentimento um dia será superada por nós, individualmente falando e socialmente também.

O que a gente representa para o mundo, normalmente, tem muito mais valor do que a gente representa para si mesmo, olhando no espelho e se reconhecendo como um indivíduo autêntico. Seja na amizade, seja no amor. E acabamos tomando atitudes extremamente babacas, por causa desse ego enorme e obeso que a gente alimenta. Por medo. Por vaidade. Por mil coisas que não vão nos levar a lugar algum.

por Marcéli Paulino

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