Relacionamento e separação dos pais: história da vida real

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Já aconteceu com você de desejar não ter acordado em algum dia da sua vida, de tão ruim que ele foi? E em uma semana? Comigo acontece isso, vez ou outra, nos dias de hoje. Mas, teve um período da minha vida, mais precisamente, aos 8 anos de idade, em que desejei isso durante um ano. Sem hipérboles.

Relacionamento é uma coisa complicada por si só. Quando envolve morar com outra pessoa, então, a complicação duplica. E quando envolve filhos, então, vixe Maria. Arrisco dizer que quintuplica. Eu simplesmente não entendo como tanta gente consegue fazer filho a três por dois por aí, com a mesma facilidade que se compra uma roupa nova. Mas, enfim, vamos ao foco do assunto.

Quem acompanha essa sessão de Comportamento por aqui, já deve ter lido um post que fiz direcionado totalmente a meu pai. É, eu me exponho de vez em quando. Não porque gosto de aparecer, mas porque acredito que minha experiência pode servir como exemplo ou inspiração para alguém que procura um conselho, ou até mesmo, por um ato de solidariedade. Dividir aqui um pouco do meu sofrimento, também, além da parte boa, é uma forma de me solidarizar com quem me lê. É uma forma de mostrar que todo mundo tem problemas e que ser blogueira não é a “festa da uva” em tempo integral que muitas por aí querem mostrar que é. Antes fosse.

Voltando à história do post para meu pai: “por quê tanta amargura?”, você deve ter pensado ao tê-lo lido. Bom, digamos que eu nunca tive um bom exemplo de figura masculina, pelo texto dá para concluir isto. Com meus 8 anos, fui obrigada a presenciar uma separação bem dolorosa e traumática dos meus pais, simplesmente, porque meu pai conheceu outra mulher, “se apaixonou” por ela e resolveu que iria sair de casa bem na época de fim de ano. Entre Natal e Ano Novo, sabe. Um período bem bacana para a ótima escolha que ele teve. Daí você, que me conhece, já pode entender um pouco por quê não simpatizo muito com festas de fim de ano.

Mas não parou por aí: o trauma pelo qual eu e minha mãe passamos reverbera seus resquícios de dor até hoje. Minha mãe nunca mais conseguiu entrar em outro relacionamento. E, mesmo em se tratando de amizade, ela bem pouco se relaciona. São pouquíssimas as amigas que ela possui e que mantém e as pessoas a quem ela pode repelir, ela repele – e sabe que, muitas vezes, chego a me perguntar se ela não está certa?

Eu, por outro lado, acabei cultivando, por muitos anos, uma autoestima totalmente deficiente e uma carência descontrolada, que tentei suprir através de muitos relacionamentos, tanto amorosos, quanto amistosos. Adivinha se não me ferrei inúmeras vezes? Foi bem desagradável minha caminhada, até eu descobrir que não era este o real caminho da felicidade e da autosatisfação.

Sempre tento dar uma de psicóloga, avaliando minhas próprias condutas e as dos outros, na tentativa de chegar a alguma conclusão e solução úteis. Ainda não sei se funciona. O fato é que levo comigo este aprendizado: tomar atitudes baseando-se em impulsos e egoísmos é a fórmula perfeita para fazer merda. Meu pai sempre foi impulsivo e eu, infelizmente, herdei essa péssima característica dele, contra a qual luto todos os dias, para não seguir seu também péssimo exemplo.

Todo ser humano é um pouco egoísta e precisa ser. Mas existe um limite em que, passando do aceitável, você se torna uma má pessoa. E meu pai foi mau, quando resolveu sair de casa naquele fim de ano. Foi o pior Natal e Ano Novo da minha vida. E foi o pior ano da minha vida, também. Porque, a partir dali, outros problemas encavalaram com o desequilíbrio emocional pelo qual passei. Muitas pessoas que mantinham relacionamentos sociais por interesse com minha mãe se afastaram, pois nosso padrão de vida caiu muito. Agressões físicas e verbais aconteceram de monte. Minha mãe sofreu preconceito por ser “uma mulher separada” – e não se enganem: isso existe até hoje. E até hoje, arrisco dizer, tem gente que olha torto para ela quando ela diz que é divorciada. Mentes retrógradas, estagnadas na era medieval, fazer o que. 

Eu sofri bullying na escola neste mesmo ano. Eu sempre fui chamada de feia, era zoada e caçoada todos os dias, via desenhos meus na minha mesa, a vida inteira, mas, quando eu tinha meu “porto seguro” dentro de casa, era diferente. A partir dali, tudo estava destruído, então, eu chegava da escola com a autoestima no chão e ainda precisava enfrentar o mundo desabando, dentro de casa, mediante meus próprios olhos.

Como você pode ver, eu não tive uma infância e uma pré-adolescência muito agradáveis. E não posso dizer que superei isso completamente até hoje, porque estaria mentindo. Pode me chamar de fraca, se quiser, de rancorosa e de amargurada, como já ouvi algumas vezes. Mas eu não ligo. Sabe por quê? Porque cada um sabe de sua própria dor. Eu sei da minha e não cabe a você julgá-la. Não cabe a mim, também, julgar a dor da minha mãe. Nem cabe a mim, também, julgar a dor de outras pessoas cujos problemas presenciei. Não cabe a você dizer como devo reagir a isso. Todo mundo tem uma deficiência de personalidade e um jeito de reagir às circunstâncias: meu pai é um egoísta sem limites; minha mãe se fecha para o mundo, para a vida e até para ela mesma. E eu sou rancorosa. Que seja.

Duas lições acho que dá para se tirar desse texto: 1) não seja um egoísta desmedido, porque, apesar de nenhum defeito ser legal, o egoísmo deveria estar na lista dos piores e 2) não tenha filhos, se você não tem certeza do que quer da vida. Porque, no fundo, creio que tenha sido esse o problema do meu pai, que o fez pisar tanto na bola, tanto como marido, quanto como pai: não ter certeza do que fazia quando casou.

Ele, inclusive, tem outra família. Mora com outra mulher e tem outra filha, que hoje tem seis anos. Dois anos mais nova que a idade que eu tinha quando vi meu mundo desabar. Frustrações à parte, sabe o que eu desejo? Que ela tenha mais sorte que eu. Que ela tenha um pai mais presente, mais decente, que possa lhe ensinar coisas boas que ele não me ensinou. Porque ela não pediu para nascer, não tem culpa do lixo emocional que foi minha infância. Ela merece ser feliz. Demorou um pouco para eu pensar assim, mas é assim que penso hoje.

E espero que você tenha aprendido algo com toda essa história que, apesar de ter sido contada em um texto enorme, está bem resumida. Acredite.

Beijos,

Marcéli.

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