SPFW n45

Consumo e consumismo: duas vertentes que mudaram como fatores determinantes de elegância

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Vamos fazer uma rápida retrospectiva da sociedade nos anos 90: elegância era sinônimo de consumismo. Desde que me entendo por gente, “era mais quem tinha mais”. Quanto maior o poder aquisitivo, mais um indivíduo era capaz de conquistar popularidade e respeito em seu meio.

Desconsiderar o outro por possuir menos era o beabá para ser uma it person. A coisa era três vezes pior quando o meio no qual nos inseríamos era a Moda. Redações, estúdios, camarins, semanas de moda, backstages, tudo “cheirava” a carão e soberba. Eu cresci, entrei na fase adulta, assistindo a isso.

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Tudo nos fazia sentir que jamais éramos “boas” o bastante para ser admiradas, para ser aceitas e, até mesmo, respeitadas. Influência de uma sociedade que outrora era muito mais podadora e cheia de estereótipos do que hoje? Com certeza. Graças a Deus, tudo muda e as coisas evoluem – o que nos faz refletir a respeito do conceito de elegância atual, que mudou um pouco dos anos 90 pra cá.

Consumo e consumismo são palavras bem parecidas e “parentes” lexicamente falando, porém, seus significados são um pouco diferentes dentro da minha interpretação. Você precisa do consumo para viver – você consome alimentos, produtos de higiene, produtos de limpeza, etc. Consumismo está intrinsecamente ligado ao ato de consumir de maneira compulsiva. Comprar para ser algo; para ter status, para receber aprovação. E este é um comportamento que herdamos da cafonice esnobe dos anos 90.

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Em tempos de crise e de estruturas político-econômicas abaladas, cada vez mais questionáveis, sair gastando que nem louca (ainda que você tenha dinheiro para isso) é, no mínimo, cafona. É como o cigarro: o ato de fumar na década de 20 era considerado chique, depois, caiu no conceito do senso comum e passou a ser considerado brega. Nos anos 2000 subiu um pouco no conceito geral e chegou a ser considerado “atitude descolada”, e hoje, finalmente, decaiu de vez, já que a saúde é uma das temáticas mais valorizadas por qualquer ser humano que preze pela própria vida. Hoje, fumar é, com o perdão da palavra, uma atitude imbecil.

Sou da opinião que cada um admira aquilo com o que se identifica. A grosso modo, em tempos onde a igualdade, o respeito e a solidariedade (felizmente) falam tão mais alto, e são consideradas premissas do bom convívio, simplesmente não combina ser arrogante, consumista, soberbo, egoísta. E, felizmente, esta é a visão de muitas pessoas. Elegância definitivamente mudou de conceito e se aperfeiçoou. Alguém “é”, hoje, não os bens que possui, mas o que carrega dentro de si. Alguém é suas atitudes, não suas posses. E este alguém ganha admiração através disso.

Uma prova destas mudanças são as coleções mostradas nas passarelas do SPFW n45. Perceba como o processo de criação ganhou novas propostas, como os estilistas se preocupam com matérias primas reutilizáveis – ao menos, alguns deles -; como as próprias modelos nas passarelas já não apresentam apenas um biótipo; o próprio show que é o desfile, hoje, é apresentado de forma totalmente diferente, irreverente, transgressora… Tudo isso é reflexo da mudança que acontece agora. A gente é o que a gente é, de fato; e não o que a gente possui.

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Créditos pelas imagens: Agência Fotosite, Unsplash e Pinterest [reprodução].

A moda não “dita” mais nada; formadores de opinião não são mais aqueles que podem muito financeiramente; a moda PRECISA de você para se consolidar e formadores de opinião, atualmente, são aqueles cujas ideias conseguem influenciar um maior número de pessoas. Que cativam, que explicam por A+B sua posição referente a qualquer assunto e provam isso de maneira convincente e ética. TER DINHEIRO, possuir peças de grandes marcas, gastar os turbos com coisas consideradas “chiques” é, hoje, nada além de ser vazio e não ter nada além disso para oferecer.

Perceba que minha crítica não é a quem tem grande poder aquisitivo e opta por comprar coisas caras, mas, a quem acha que pode ser SUPERIOR por causa disso.

MAIS: Por que precisamos falar de autoestima e sobre como cultivá-la

E convenhamos: o conteúdo que vem dentro da embalagem pode ser tão mais rico! Você não concorda? 😉

Beijos e boa semana!

Marcéli.

Resumo de apostas do SPFW n 45

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A moda mudou. E quando digo isto, não me refiro somente às mudanças estéticas, trazidas a cada temporada, mas, ao conceito. Que sempre se atualiza de acordo com o tempo em que vivemos. Sempre digo que, muito além da indumentária, moda é comportamento; é manifesto; expressão e, por que não, ideais. 

E que tempo será que vivemos agora? Como queremos ser representadas pelas marcas que expõem suas ideias na passarela? Depois de uma longa reflexão, de uma coisa eu tenho certeza: não há mais espaço para o fútil. A ostentação e o glamour estão, mais do que nunca, fora de moda. Isso se extende, inclusive, para além da indumentária e refere-se também à atitude, onde arrogância e exclusão também estão OVER há muito tempo. Mas isso é assunto para um outro post.

SPFW n45 “POW” EXPLOSÃO CRIATIVA

A 45ª edição do São Paulo Fashion Week teve como inspiração as poesias de Conrado Segreto. Mais que o romantismo e que a liberdade de expressão do autor em suas obras, senti que esta semana de moda representou fortemente a diversidade, muito mais que as semanas anteriores. E eu sinto que a tendência é, felizmente, (re)afirmar esse ponto de vista, cada vez mais.

Afinal, o que é moda sem inclusão e liberdade? Não dá mais para ficar na negação, mantendo antigos padrões em que a moda era considerada um divisor de águas no âmbito social; em que era necessário “rezar pelas cartilhas das revistas e das vitrines”ou você seria olhado torto e excluído de uma rodinha. Moda não é mais isso há muito tempo.

Sendo assim, vamos a um panorama dos desfiles que mais me agradaram – não só em termos de informação de moda, mas, em seu conceito como um todo!

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Não dá pra fugir da moda praia, nem mesmo no Outono-Inverno, considerando que esse imenso país possui partes que vivem o verão o ano inteiro. Sendo assim, uma das marcas de moda praia carimbadas da semana paulistana investiu numa coleção romântico-retrô para seu beachwear, entre babados, poás, listras e formas geométricas.

O estilo rococó foi atualizado pela modernidade das cores e das prints gráficas, que enfeitaram suas roupas de banho em modelagens tomara-que-caia, off shoulders, cortininha e maiôs. Ponto para a produção do desfile da marca, que optou por modelos de diferentes idades e biótipos na passarela.

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Idealizado e executado pelo estilista Gustavo Silvestre, o Projeto Ponto Firme oferece aulas de crochê aos detentos da penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos – SP. O trabalho de capacitação resultou na coleção que abriu o primeiro dia de evento na capital paulistana.

Na passarela, vestidos, casacos e conjuntos de saia e blusa trabalhados em crochê, com a mais variada cartela de cores – do preto, clássico neutro, ao vermelho, laranja, verde-bandeira e amarelo. Tudo bem tropical e leve, como é o nosso inverno.

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Celebrando a diversidade cultural dos imigrantes brasileiros, a marca, que sempre exibe uma modelagem impecável em seus desfiles, apostou nas peças amplas e nos tecidos comfy, em meio a uma cartela de cores bastante democrática, cujos tons podem ser facilmente combinados entre si. As malhas, feitas em um rico trabalho de patchwork, promovem o bem-estar esperado em uma época de outono-inverno.

A praticidade da coleção se estende aos acessórios: amarrações para ajuste de mochila e cinto, bem como pochetes com grandes bolsos removíveis.

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A passarela da marca de Oscar Metsavath representou, com louvor, o que a moda significa nos tempos atuais. Sua coleção, batizada de “ASAP”, teve o sentido de um manifesto, no qual a grife alerta para a confecção de peças de modo consciente. Seu inverno 2018 protagonizou a sustentabilidade, onde cada peça foi feita por mãos de trabalhadores de comunidades, visando geração de renda, e onde a matéria-prima escolhida é credenciada e autorizada pelo IBAMA (foi o caso da pele do peixe pirarucu e do salmão).

Seu inverno 2018 apresentou peças de apelo esportivo-comfy, modelagem que já faz parte do DNA da marca, entre calças amplas, maxicasacos, malhas e quimonos – feitos com algodão reciclado, outro material utilizado na confecção das peças. Malhas feitas de pet, casacos de naylon glass e bolsas e mochilas com aplicação em cristais Swarovski também fizeram parte da coleção.

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Parceria é outra palavra de ordem da economia atual que reflete, é claro, no âmbito da moda. Não diferente, o SPFW também teve várias destas parcerias marcando presença nas passarelas – e uma delas foi entre Manolita e Pat.Bo. O inverno cool da marca de roupas de Patrícia Bonaldi recebeu a elegância dos sapatos de Manolita, entre modelos de botas, ankle boots e escarpins nos mais diferentes designs.

Do inverno 2018 de Pat.Bo podemos tirar como inspiração o xadrez Tartan e Príncipe de Gales, pomposos, no entanto, inseridos num contexto bem casual e irreverente, ao lado de babados e peças estruturadas. O estilo boho chic também deu levemente as caras, em meio a modelagens fluídas de calças e acessórios como o gorro que faz alusão a um turbante.

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Outra marca, cujo conceito representou muito bem nosso momento atual na sociedade, foi a Cotton Project. Seu ideal “HOW TO LEAVE THE WORLD BEHIND” (como deixar o mundo para trás, em tradução livre), enumera algumas questões que podem cair por terra no momento em que passamos a analisá-las, entre elas: “é impossível se livrar da ansiedade, mas você pode mudar a forma como se relaciona com ela”.

Em um formato de escapismo real, a marca investiu na representatividade de um necessário equilíbrio entre a vida louca urbana e a calmaria de um ambiente rural, em peças de cores referentes à natureza – verde, tons de marrom, beges e crus -, com pitadas de cinza, lilás e mostarda. Das texturas utilizadas, forte presença da camurça, da pelúcia sintética, do jacquard, do moletom, do jeans, da sarja, do tricô e dos couros naturais.

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Um dos fortes nomes do jeanswear da atualidade, a Amapô também teve como base de sua coleção a diversidade cultural, social e racial. Em uma divertida e irreverente  apresentação, sua passarela do inverno 2018 foi marcada por um mix de referências pop dos anos 80 – como Madonna, Lady Gaga e David Bowie, com explosão de cores, ombros marcados e texturas envernizadas.

Presença também de uma pitada do estilo skatista, marcada pelos bermudões e casacos de tactel. Outro ponto forte e interessantíssimo da coleção: algumas de suas peças são de brechós, que foram reaproveitadas e confeccionadas para a apresentação.

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imagens: divulgação | Agência Fotosite

Inspirada nos esportes invernais, como o esqui, a marca revisitou lugares como Aspen, Chamoix e Montblanc em suas peças para o inverno 2018. O branco é tom predominante nos looks, que apresentam modelagens que mesclam o street e o sportwear (trabalho já conhecido da marca), em um leve contraponto ao romantismo da era vitoriana, presente em alguns sutis acabamentos.

As formas geométricas dão passagem, também, para uma pegada futurista em alguns looks. Além do branco, a cartela de cores se divide entre o lilás, o verde água, o laranja-manga, o azul cobalto, o sal rosa e o off white

MAIS: Balanço SPFW n 44 e as tendências da temporada de verão

E por aqui encerro mais uma cobertura da semana de moda paulistana. São quase 6 anos neste árduo trabalho que visa, além de informar sobre a vestimenta, o comportamento e o caminho que nossa sociedade vem tomando, já que moda é, indubitavelmente, um reflexo do que vivenciamos no dia a dia.

Nos vemos na próxima! Beijos,

Marcéli.

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