Você já parou para pensar que quase todos os xingamentos – ou, ao menos, os mais pesados – são de conotação feminina? E que, quase sempre, quando uma fatalidade acontece – estupro, traição, aborto – a sociedade sempre arruma uma maneira de culpabilizar a mulher pelo ocorrido? “Ela estava vestida de forma provocante“, “ela não dava conta do marido” ou “é uma irresponsável, engravidou porque quis“, entre outras atrocidades.
Diante de tantos fatos que comprovam o quanto, ainda nos dias de hoje, a mulher é subjugada, é simplesmente inadmissível ouvir de alguém que o feminismo é inútil ou que o machismo não existe. Que querer igualdade é “fanatismo das mulheres” e que “respeito é uma conquista”. Espera aí, colega: respeito é algo que todo SER HUMANO DEVE ter para com o outro. É uma obrigação nossa para com outro ser vivo, aliás. Ninguém tem que conquistar nada quando aquilo que temos a dar é uma obrigação.
Mas, hoje eu quero falar sobre um outro assunto que, por sinal, tem tudo a ver com estes subtemas aí e de cima e que ainda é, infelizmente, pouco conhecido: você já ouviu falar em SORORIDADE? Vamos recorrer ao nosso amigo Dicionário:
“So ro ri da de – nome feminino; 1. parentesco entre irmãs; 2. relação de união ou de amizade próxima entre duas ou mais mulheres, semelhante à que se pressupõe que exista entre irmãs; 3. associação de mulheres unidas para um mesmo fim; 4. solidariedade feminina” [DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, Editora Porto, 2016].
Além de todo o significado nítido e claro da palavra, que também deixa explícito o objetivo de sua abordagem aqui, no meu post, o que mais será que ela implica – considerando meu primeiro parágrafo? Que as mulheres precisam parar de atacar umas às outras. Eu já vivi muito isso e, infelizmente, ainda vivo – e não é só no ambiente profissional, não. E vou contar a vocês um exemplo prático e explícito da vida real. Da minha vida.
Há alguns meses, sofri graves acusações sobre ter “inventado” uma fofoca em uma turma de amigos sobre uma pessoa que mal conheço (claro, por quê é que vou usar o meu tempo com coisa mais produtiva, né? É óbvio que irei me ocupar em inventar coisas…). Um comentário que fiz na inocência, de algo que vi, deu margem para que pessoas aumentassem este meu comentário e transmitissem um “recado” totalmente errado à outra pessoa, mencionada em questão. O resultado foi que esta pessoa cultivou um ódio desproporcional por mim. Sabe-se lá o que chegou no ouvido dela, mas, o fato é: existiam outras pessoas envolvidas no ocorrido, homens e mulheres e quem levou a pior fui eu. Eu fui a “vaca mal comida” que falou da pobrezinha, eu fui a “fofoqueira de merda, invejosa que não tive mais o que fazer”. Sou eu quem recebo, até hoje, caretas e dedos do meio pelas costas de algumas mulheres, entre a turma deste grupo, porque não sou digna de ter amigas, já que fui esta pessoa tão “mal caráter e desprezível” de “inventar uma coisa destas”. Dá até vontade de rir. Sabem como é, né. A menina é sempre a piranha e o cara nunca fez nada de errado – ou, se fez, sempre tem um motivo justificável.
Jamais, por nenhum momento, provavelmente, passou pela cabeça desta pessoa que ficou com ódio de mim que eu simplesmente não tive a menor intenção de difamá-la? Que, aliás, o que ela faz da vida dela é problema DELA somente e que eu comentei algo na inocência, sem intenção de causar mal estar? Que as pessoas ao redor, que ouviram meu comentário, é que poderiam sim ter aumentado e piorado a história para criar um climão? E sabe o que é mais triste?? Que sempre quando ocorrem problemas com fofocas e rivalidades, na maior parte das vezes, são mulheres envolvidas. Mulher querendo atacar outra mulher; mulher querendo menosprezar outra mulher; mulher querendo criar rivalidade e intriga com outra mulher. NUNCA é o homem. E o que me deixa com mais desânimo da humanidade é que gente com a mentalidade desta pessoa da história, “pivô” da suposta fofoca – da qual eu realmente não falei mal, existem de monte por aí.
Pessoas que, ao parar para ouvir uma fofoca de alguém, ao invés de irem perguntar e se certificar de que isto realmente aconteceu, a primeira atitude que têm é retrucar um suposto xingamento e cultivar raiva pela outra pessoa – pela mulher, no caso. Porque o demônio da história é sempre a mulher. Podem reparar. O machismo já começa, inclusive, pela Bíblia: quem foi que comeu o fruto proibido? Eva, a mulher do casal.
Essa historinha triste aí em cima foi só um exemplo entre tantas histórias parecidas que acontecem comigo, com você e com mais um monte de gente que nem conhecemos por aí. E o problema maior é exatamente este: falta sororidade. De tanto que as mulheres foram encaradas como objetos, por tantos anos, nós não fomos ensinadas a amar umas às outras e a nos respeitar, como os homens foram. A gente não sabe lutar pelo direito da nossa amiga; infelizmente, o machismo no decorrer das décadas só fez com que nosso egoísmo e falta de solidariedade crescesse e nos esquecemos de que, antes de qualquer coisa, somos todas mulheres.
Deveríamos lutar pela mesma causa e deveríamos nos respeitar como iguais. Deveríamos trabalhar para aumentar nossa tolerância, umas para com as outras. Quando você xinga sua colega de “mal comida” ou de “filha da puta”, você está xingando a classe da sua mãe, da sua irmã, da sua filha. De toda mulher que você conhece e que você ama.
Pense nisso.
Me chamo Marcéli Paulino, nascida em 16 de Julho de 1988, e sou bacharel em Tradução e Interpretação, curso que iniciei com 17 anos! Um pouco antes de me formar, já me interessava muito por moda e sabia que queria estudar e atuar na área. Então, assim que peguei meu diploma, foi o que fiz: procurei formações na área, que era meu sonho…