Eu sou uma pessoa extremamente rancorosa. Já fui mais, admito, e tenho tentado trabalhar isso da melhor forma possível, mas é uma característica que faz parte da minha personalidade. Sempre fez. Então, vocês já devem imaginar por quantos dilemas já passei no quesito "perdão" ao longo da vida.
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No entanto, em meio a uma flexibilidade que fui adotando ao longo do tempo e da maturidade pela qual a vida nos faz passar, hoje eu já perdoei muita coisa que no passado jamais perdoaria. Às vezes, eu imagino a Marcéli de antes brigando com a atual: "você é boba? Não é possível, menina, acorda! Deixa de ser pamonha!". Acontece que, na prática, eu aprendi que "pamonha" e "fraca" mesmo é aquela pessoa que não perdoa. Sabe por que? Porque quem mais vai sofrer com o rancor e com a amargura de uma recordação ruim é você mesma. Mesmo essas pessoas que me fizeram mal no passado e com as quais hoje eu nem tenho contato, não ocupam mais o "lado negro" do meu coração atualmente, simplesmente porque eu as esqueci e, consequentemente, esqueci o que me fizeram. É claro que "esquecer", nesta conotação, significa perdoar mesmo, e não deletar da memória – até porque com a minha é meio difícil fazer isso. Se eu encontrar fulano(a) na rua, eu sei o que ele(a) me fez no passado, no entanto, posso cumprimenta-lo(a) educadamente e não virar a cara, como faria em épocas passadas, quando ainda guardava aquela mágoa. Hoje não tem mágoa; não tem carinho também, mas não tem mais aquele ódio corrosivo que impede a gente de parar de olhar pra trás e seguir em frente.
Obviamente, vai de cada um classificar o que é perdoável ou não em nível de dar continuidade ao relacionamento. Perdoar pode significar que você não vai enforcar a pessoa (risos), mas também não quer continuar com ela porque ela não te passa mais confiança, por exemplo. Ou, então, o seu perdão permite que você apague o ocorrido e dê mais uma chance, porque você julga que vale a pena. Cada caso é um caso e a decisão só cabe à pessoa em questão, mas, em algum momento da sua vida, cedo ou tarde, você vai precisar perdoar. Isso é inevitável. Não dá para se livrar do perdão para viver uma vida boa.
Quando, no entanto, você perdoa alguém que continua no seu convívio (coisa que pra mim, antes, não tinha cabimento), significa duas coisas: que você sente amor de verdade e que você é maduro o suficiente para deixar o orgulho de lado. Querendo ou não, ambas as coisas caminham juntas – amor e perdão. Aqui não estou falando de interesses financeiros, nem de nenhuma característica que envolva personagens mau caráteres; estou falando de sentimentos puros, sem visar nenhum interesse ou lucro. Se o seu orgulho é maior do que o amor e a importância que você dá ao outro, certamente o seu perdão chegará muito tempo depois, fora do convívio com a pessoa em questão, porque você não aguentará conviver com esta pessoa e com a lembrança que, consequentemente, ela traz. E eu não estou julgando isto de forma ruim; isto acontece muito e é totalmente compreensível. Como já disse, somos seres humanos cheios de fraquezas e imperfeições.
Mas, mesmo que a sua dor aparentemente interminável faça você deletar essa pessoa da sua vida, vai chegar um dia em que não doerá mais. Você vai seguir em frente e, em algum momento, vai parar de olhar pra trás. E é bom que isso aconteça mesmo; alimentar amargura não faz bem nem a você, nem aos que te cercam. É algo que envenena por dentro e impede que você siga adiante com ternura e otimismo. E quem é que não quer ter essas duas características consigo? Falo por experiência própria: perdoar não é algo que você faz (só) para os outros, mas, em primeiro lugar, para si mesmo.
por Marcéli Paulino
Me chamo Marcéli Paulino, nascida em 16 de Julho de 1988, e sou bacharel em Tradução e Interpretação, curso que iniciei com 17 anos! Um pouco antes de me formar, já me interessava muito por moda e sabia que queria estudar e atuar na área. Então, assim que peguei meu diploma, foi o que fiz: procurei formações na área, que era meu sonho…