Vamos falar sobre o perdão: qual o caminho para fazê-lo com sucesso?

Não sei se isso é bom ou ruim, mas, fato é, que tenho uma excelente memória. Pode me perguntar coisas da minha vida de quando tinha 4 anos de idade, que vou me lembrar com detalhes, pode até me dar um número novo de telefone, por exemplo, vou decorar na hora. Bom, quando o assunto é 'más lembranças', confesso que não me agrada lembrar as coisas tão bem assim.

Eu sou uma pessoa extremamente rancorosa. Já fui mais, admito, e tenho tentado trabalhar isso da melhor forma possível, mas é uma característica que faz parte da minha personalidade. Sempre fez. Então, vocês já devem imaginar por quantos dilemas já passei no quesito "perdão" ao longo da vida.

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E foi pensando sobre minha personalidade extremista e meu rancor que me deu na telha abordar esse assunto tão polêmico e tão 'grandioso', por assim dizer – o perdão. Eu já deixei de perdoar muita coisa… tem muita gente que já foi excluida do meu convívio por mim, sem a menor hesitação, e não voltou mais para ele. Os motivos podem ser bobos ou graves, depende do ponto de vista de cada um, mas o fato é que eu já "ejetei" muita gente da minha vida por coisas que eu julgava imperdoáveis. Confesso que não me arrependo.

No entanto, em meio a uma flexibilidade que fui adotando ao longo do tempo e da maturidade pela qual a vida nos faz passar, hoje eu já perdoei muita coisa que no passado jamais perdoaria. Às vezes, eu imagino a Marcéli de antes brigando com a atual: "você é boba? Não é possível, menina, acorda! Deixa de ser pamonha!". Acontece que, na prática, eu aprendi que "pamonha" e "fraca" mesmo é aquela pessoa que não perdoa. Sabe por que? Porque quem mais vai sofrer com o rancor e com a amargura de uma recordação ruim é você mesma. Mesmo essas pessoas que me fizeram mal no passado e com as quais hoje eu nem tenho contato, não ocupam mais o "lado negro" do meu coração atualmente, simplesmente porque eu as esqueci e, consequentemente, esqueci o que me fizeram. É claro que "esquecer", nesta conotação, significa perdoar mesmo, e não deletar da memória – até porque com a minha é meio difícil fazer isso. Se eu encontrar fulano(a) na rua, eu sei o que ele(a) me fez no passado, no entanto, posso cumprimenta-lo(a) educadamente e não virar a cara, como faria em épocas passadas, quando ainda guardava aquela mágoa. Hoje não tem mágoa; não tem carinho também, mas não tem mais aquele ódio corrosivo que impede a gente de parar de olhar pra trás e seguir em frente.

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Porque, afinal, perdoar é isso mesmo: seguir em frente de uma maneira ou de outra. Em se tratando de relacionamentos amorosos, por exemplo, perdoar é uma coisa complicadíssima, principalmente, quando envolve sentimentos como o amor. Imagine aquela pessoa que você idealizava "perfeita" te decepcionando, provando que é capaz de fazer uma coisa que você jamais supunha que ela faria. É claro que é difícil; de início, a raiva toma conta, a irracionalidade aflora e dá vontade de gritar, de xingar e até de se vingar (com vocês é assim? Comigo é). Mas quando existe amor e vontade de continuar, a gente arruma forças não sei de onde e simplesmente perdoa. E continua. É assim com amores, é assim com amizades, com família…

Obviamente, vai de cada um classificar o que é perdoável ou não em nível de dar continuidade ao relacionamento. Perdoar pode significar que você não vai enforcar a pessoa (risos), mas também não quer continuar com ela porque ela não te passa mais confiança, por exemplo. Ou, então, o seu perdão permite que você apague o ocorrido e dê mais uma chance, porque você julga que vale a pena. Cada caso é um caso e a decisão só cabe à pessoa em questão, mas, em algum momento da sua vida, cedo ou tarde, você vai precisar perdoar. Isso é inevitável. Não dá para se livrar do perdão para viver uma vida boa. 

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É claro que ninguém aqui vai levar um soco na cara e virar o outro lado para a pessoa bater de novo – isso só existe na Bíblia. Somos seres humanos, cheios de fraqueza… Ou seja, não precisa forçar a barra e dizer que perdoa sem perdoar de verdade, dentro de você. O perdão é algo que leva tempo e precisa de maturidade. Na maioria das vezes, ele acontece naturalmente – você se pega lembrando daquela memória que antes te machucava e, de repente, ela não machuca mais. Pensa naquela pessoa que antes você gostaria de escalpelar viva e, como que num passe de mágica, você não quer mais fazer isto com ela. Ela simplesmente não significa nada, nem de bom, nem de ruim. Você até pode desejar que ela seja feliz – longe de você, mas que seja.

Antes eu entendia o perdão como uma atitude de pessoa fraca que "voltava a ser amiguinha daquele(a) que te ferrou". Hoje, minha visão é completamente diferente: eu encaro o perdão como uma forma de crescimento, um presente que você dá a si mesmo de encerrar aquele assunto de uma vez por todas e seguir sua vida, enterrando aquilo que uma vez te fez tão mal. Até porque, normalmente, quem fez a ação é que vai sofrer com ela e não você. Você pode ter sofrido momentaneamente, mas quem plantou é que vai colher lá na frente. Concorda? 

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Imagens: reprodução.

Quando, no entanto, você perdoa alguém que continua no seu convívio (coisa que pra mim, antes, não tinha cabimento), significa duas coisas: que você sente amor de verdade e que você é maduro o suficiente para deixar o orgulho de lado. Querendo ou não, ambas as coisas caminham juntas – amor e perdão. Aqui não estou falando de interesses financeiros, nem de nenhuma característica que envolva personagens mau caráteres; estou falando de sentimentos puros, sem visar nenhum interesse ou lucro. Se o seu orgulho é maior do que o amor e a importância que você dá ao outro, certamente o seu perdão chegará muito tempo depois, fora do convívio com a pessoa em questão, porque você não aguentará conviver com esta pessoa e com a lembrança que, consequentemente, ela traz. E eu não estou julgando isto de forma ruim; isto acontece muito e é totalmente compreensível. Como já disse, somos seres humanos cheios de fraquezas e imperfeições.

Mas, mesmo que a sua dor aparentemente interminável faça você deletar essa pessoa da sua vida, vai chegar um dia em que não doerá mais. Você vai seguir em frente e, em algum momento, vai parar de olhar pra trás. E é bom que isso aconteça mesmo; alimentar amargura não faz bem nem a você, nem aos que te cercam. É algo que envenena por dentro e impede que você siga adiante com ternura e otimismo. E quem é que não quer ter essas duas características consigo? Falo por experiência própria: perdoar não é algo que você faz (só) para os outros, mas, em primeiro lugar, para si mesmo.

"O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor" (Oscar Wilde).

por Marcéli Paulino

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