Sobre ser blogueira na vida real: verdades que ninguém vai te contar

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Já faz algum tempo que o termo “blogueira” se consagrou como profissão. Ou influenciadora, se você preferir. Ou, ainda, “Digital Influencer“, se você é daquelas que acha que uma palavra só tem valor agregado se for dita em inglês. Enfim. Como muita coisa que entra na moda, essa função rentável entrou na dança.

Como me sinto em relação a isso? Bem, eu gosto e não gosto. Porque, ao passo que me sinto extremamente realizada fazendo algo que amo real – falar sobre moda de maneira prática para ajudar as pessoas -, também me sinto desvalorizada quando associam o que eu faço a “ganhar dinheiro fácil”. Antes fosse viu, amigo!? Aliás, chega a ser cômica a quantidade de pessoas que se tornam blogueiros e influenciadores por segundo neste mundo. O pessoal realmente deve acreditar que este é o caminho certo pra ganhar dinheiro fazendo “nada” e, se esta é a sua ideia de ser blogueiro, sinto lhe informar: você está fortemente enganado(a). 

E eu vou te dizer por que: em primeiro lugar, pra se considerar blogueiro você precisa ter poder de influência sobre certa quantidade de pessoas – de preferência, uma quantidade considerável. E isso leva tempo. Ou seja, ninguém “nasce” blogueiro da noite pro dia. É um trabalho beeeeem complexo e beeeeem demorado de visibilidade, de produção de conteúdo, de ESTUDO principalmente (infelizmente, alguns se esquecem dessa parte). Ou seja: põe uns dois aninhos aí, só pra começar.

E depois? Bom, depois que você alcançou este certo poder de influência – no qual você NUNCA vai poder parar de trabalhar em cima, porque você sempre vai precisar alcançar mais e mais pessoas -, você tem que correr atrás de patrocínio. E se você não tiver a sorte de ter um, pra bancar custos de: webdesign, marketing, criação de layout e logomarca, edição de foto/video/imagens/a p*rr@ toda, você vai precisar arrumar um trabalho paralelo pra bancar isso. Porque sem um ÓTIMO conteúdo, bem produzido, bem estruturado e bem apresentado, nenhuma marca vai querer saber de você. Nem a lojinha do “Seu Zé”, ali do bairro. Todo mundo se permite ser amador, mas não permite amadorismos alheios. Anota essa pra vida.

Ah. E falando em marcas… captar clientes é FODAMENTE difícil. Com o perdão da palavra. Quer dizer, perdão nada, porque tem cliente que é exatamente isso: FODA. No pior sentido da palavra. Que te faz perder 3 horas montando orçamento e te dá um simples “não, obrigada” depois; que marca reunião com você, faz você planejar seu dia em cima daquilo e na hora H te dá um mega bolo (sim, isto já aconteceu comigo); que vai te cozinhar durante 1 ano da sua vida através da frase: “mês que vem a gente faz um trabalho” e nunca vai fazer. Que vai te mandar um “jabá” (procurar significado no Google) e vai querer que você trabalhe fazendo divulgação pra esse jabá durante um ano inteiro, sendo que o valor do produto não é nem 1/3 do valor do trabalho que você cobraria pra essa divulgação (e ainda dizem que ganho “muitos presentes”). Vai ter gente que até vai topar trabalhar com você, mas antes de fechar negócio, vai diminuir você ao máximo pra justificar a merreca que quer te pagar. E você acaba aceitando porque, né, “melhor um pássaro na mão” do que nenhum.

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E a quantidade de “nãos” que você recebe? VISH, incontáveis. Tem empresário que não se dá ao trabalho nem de abrir seu mídia kit, nem ao menos de abrir seu e-mail, quando lê no assunto “proposta de publicidade” ou qualquer coisa do gênero. Vão bater o telefone na sua cara, vão menosprezar você de todas as formas possíveis e imagináveis. Arrisco dizer que, com certeza, ainda não fui surpreendida (ou melhor, decepcionada) de todas as formas. Vai ter alguma nova, a qualquer momento…

Vão ter alguns poucos que vão valorizar seu trabalho de mídia – que é isso o que é, na realidade – e vão voltar a investir em você depois da primeira vez. Mas pense numa média (metafórica) de 1 cliente bom para 15 ruins (e “ruim” que eu digo é em termos profissionais, não pessoais). Ou seja: a primeira palavrinha do seu dicionário pra trabalhar neste meio (e em MUITOS outros, creio) é: “paciência”. Mas MUITA. Se você se considera uma pessoa paciente, multiplica essa paciência por 5 e este é mais ou menos o ideal que tem que ter pra ser blogueiro.

Porque, acima de tudo, apesar de você vender uma imagem de alguém “real”, “palpável”, você NÃO pode cometer erros. Não pode xingar, falar um palavrão. Não pode ser impulsivo. Nem pode fazer cara feia. Tem que viver sorrindo, feliz da vida, boneca Barbie, senão as pessoas te julgam. Se um ser anônimo andando na rua já é julgado, imagina uma figura pública. É lindo sim ver meninas como Camila Coelho e Tássia Naves viajando o globo, hospedadas em hotéis milionários, comendo do bom e do melhor e vestindo looks que valem o preço de um carro importado. É maravilhoso sonhar em ter a conta bancária delas. É, sim.

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Mas, questione-se todos os dias se você está disposto(a) a enfrentar tudo isso aí, que descrevi acima, para chegar até lá. E enfrentar todos os dias, várias vezes ao dia. Dormir tarde e acordar cedo; viver com o celular pendurado no rosto, conectada 24hs por dia, 7 dias por semana, obrigatoriamente; pensar 10 vezes em cada passo que vai dar, seja online, seja no ao vivo, porque está sendo observada. Porque tudo o que você fizer e falar vai ter um poder de influência sobre alguém e isso te acarreta responsabilidade. E se fosse tudo isso para ganhar bilhões, ok, né? A gente sempre pensa isso. Mas, durante um bom tempo da sua vida e ao longo da construção de sua carreira, você vai fazer isso por pouquíssimo dinheiro, se não tiver que fazer de graça. Ou, talvez, pelo resto da vida. Porque nem todo mundo chega em níveis astronômicos de ganhos financeiros como Camila e Tássia. Não é nem um pouco fácil quanto parece.

E se é esta a profissão que você escolheu, você vai ter que trabalhar ganhando pouco para começar, senão, você não entra, muito menos permanece neste mercado – que além de saturado de profissionais, está em crise. E nessas de “aceitar o que querem pagar”, você vai assistindo à sua própria profissão sendo desvalorizada, várias vezes. Não será uma vez, nem duas, nem três. Serão VÁRIAS VEZES. Mesmo.

Pra terminar, acredite em mim: esse texto aqui não descreve nem 1/4 do que a gente passa. Por isso que aquele clichê do “ame o que faz” nunca foi tão atual. Porque lutar pela sobrevivência, pelo ganha-pão, é algo que você vai ter que fazer de qualquer jeito, obviamente. Resta saber se essa sua luta diária vai ser um prazer ou um tormento. Porque, só amando o que se faz se arruma motivação para continuar.

MAIS: Colares e decotes – você sabe combinar essa dupla?

Eu tenho essa motivação, porque realmente, incondicionalmente, amo o que faço. E você?

Beijos sinceros,

Marcéli.

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